sábado, 24 de dezembro de 2011

Uma última proposta para um ano nada resoluto. Uma velha visita a um passado que já fora promessa de futuro. Um meio sorriso de satisfação. Um conforto de gratidão. Um aperto no coração. Promessas. Promessas. Desprendimentos. Dúvidas. E uma diminuição gradativa de termos. Uma necessidade imensurável de eliminar o inútil, o improdutivo. Uma vontade involuntária de resgatar a beleza de dias mais simples e verdadeiramente felizes. 
Permanece a certeza de que tenho uma forma toda particular de avaliar as pessoas e suas atitudes, de que estarei entregue muito antes de me entregar, de que não evitarei reações ou mesmo de que não serei mais do que espontânea. De fato, sempre haverão pessoas que simplesmente não se importarão ou entenderão, assim como haverão aqueles que não  apenas não se importarão ou entenderão, como também machucarão. Eu, por humildade, apenas os deixo num espaço mental obsoleto para não aborrecer minha sensibilidade exigente, para não me sentir ferida.
Ainda me aborrecem algumas coisas, mas aprendi que somente eu me importo com o que é verdadeiro; desde que tudo pareça estar bem, está bem. E continua não valendo a pena discutir o que quer que seja. De qualquer forma, a deturpação de velhos conceitos fora inevitável, e parece mais confortável apenas desistir. E regressar. E apagar. E desconstruir. Não que o conforto seja equivalente a conforto, mas ao menos significa estabilidade. 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Eu quero o simples, o terno, o sofisticado. Quero um afável que só eu e você conheçamos. Quero um Tom Jobim enquanto você Caetano. Quero cores vivas de vida, brincar com o pleonasmo infantil de quem apenas sorri. Quero dizer o que não entendem por tentarem entender. Uma beleza do que já era belo, uma canção que assim deve ser nomeada, um olhar de boa vontade, uma Nana Caymmi. E o verão. E o verão.

domingo, 9 de outubro de 2011

Eu nunca faço nada arbitrariamente. Ou talvez faça. Certo, definitivamente eu faço coisas arbitrariamente. Ou talvez seja apenas a velha intuição de sempre. O caso é que minha carência de atenção se aliou desde cedo ao extremismo para minha própria conveniência. E é esta conveniência que me dá alguma credibilidade, nem que seja para comigo mesma. Mas talvez eu, inocentemente habituada ao egoísmo, não tenha percebido que não sou mais eu aqui. É algo indissociavelmente maior. E posso até admitir que me importo com quantidade, com dimensão. Porque possuo uma forma própria de mensurar, meu querido. Então eu digo que um é apenas injusto a nós. Não é que trinta e um milhões, quinhentos e trinta e seis mil sejam, mas valem a tentativa.

sábado, 17 de setembro de 2011

Te quero só para mim. Te quero com todo o egoísmo auto-indulgente. Te quero comigo te querendo. Te quero sem razão de querer. Quero a mim e a você num cantinho só nosso onde eu seja o seu querer e você o meu. Quero que você me queira um pouco mais. Quero nós numa vontade de nada mais querer além de nós. Quero a mim com você. Quero agora. Quero você.

domingo, 14 de agosto de 2011

Não identifico minhas perdas ou suas dimensões. Não identifico mais a mim mesma sem estas. E não consigo regressar para quando tudo eram sons convertidos em imagens; deram-me sons que se desdobram em imagens distorcidas. Não é tudo. Não é só isso. Não sou eu quem escreve a relutância da rotina, a inevitável redundância desse tempo que, pela primeira vez desde que me lembro, passa rápido sem sentido de passar. Distrações já não me distraem, sono algum comporta meu descanso ou tão pouco alguma manhã me parece recomeço. Eu que sempre precisei escrever, que sempre precisei de um espaço, teria delimitado o meu ao extremo? Eu que sempre me considerei irritante, estaria agora com o receio de me "destornar" eu?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Não acho que tenha sido a facilidade ou a dificuldade. Não acho que sejamos resultado de algo, ou talvez apenas eu seja. Não sei ser hipócrita comigo mesma, apenas indulgente. Alguém precisa estar em minha defesa, e já não importa quem. Talvez a importância tenha se igualado à irrelevância sem que eu notasse. Qualquer coisa é nada agora. Qualquer roteiro me torna figurante, qualquer cenário me é estranho. E eu vago sem mim. E eu parto sem me dar satisfações, reprimindo um ego que de tão tímido quase nunca se expõe ao sol. Por onde tenho andado? O que tenho bebido? O que tenho dito? Eu clico em avançar mecanicamente e o pós-clímax jamais chega. Tenho me contentado com minha ausência. Aliás, tudo tem me satisfeito. O que fazer além de ser feliz a esta altura? Quem eu penso que sou? Que direito eu já tive? O que eu quero, afinal? Quem eu penso que sou? Quem? Fico com as pontuações.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Não quero responder, não quero entender, não quero saber porquê, não quero perguntar, não quero me importar, não quero concluir, não quero... Não. A cegueira me convém e isso é tudo.

domingo, 10 de abril de 2011

Desconheço o propósito da maioria das minhas atitudes, mas sei o porquê de cada uma delas. A verdade é que me conheço demais para me suportar e costumo acreditar nas verdades que me convêm. Irrito-me com o que somente eu entendo, mas alegro-me com a exclusividade. Odeio minha incapacidade de impedir o que desde sempre estava errado. Odeio odiar a mesma coisa pela mesma razão. E odeio mais ainda minha busca por uma fonte maior de ódio. Tenho adquirido hábitos impróprios.

quinta-feira, 3 de março de 2011


Não creio estar em bom território. Não creio que pude mesmo crer que poderia crer. Juro que suspeitei desde o vigésimo sexto dia que tudo só havia começado. Na verdade, eu soube muito antes disso; meu realismo nunca me privou do que eu já sei. E as transições unicamente sufocam meu tão desolado fingimento. E eu não deveria ser relapsa. Eu não deveria recorrer diversas e diversas vezes prometendo coisas que não estão sob meu poder. Ou sob meu controle. Ah, como me angustia não ter controle algum sobre a mínima coisa a meu respeito! E poucos sabem como preciso me identificar, ajustar, pertencer. Ter meu nicho social mesmo, sabe? Não preciso de avaliação alguma, juro. Sei me adaptar rapidamente. Não me interesso por nenhum dos extremos da cadeia, apenas em permanecer camuflada.