segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Numa manhã ensolarada e agradável eu ainda me assusto com essa tal capacidade de desejar imensamente ouvir uma canção que condiz exatamente com o que me rodeia. Eu realmente não sei como encarar isso; poderia ser isso algum fenômeno espiritual ainda sem nomenclatura adequada ou um desespero crescente de alguém que se conhece demais pra aceitar o que quer?
Confesso que sempre me considerei irritante por esta constante incapacidade de ser constante, e mais ainda pela indefinição. Se ter pressa é tudo que não devo ter, por que parece tão errado fazer o contrário? Se não consigo evitar as escolhas, por que avaliar prós e contras me leva a uma perda insuportável? Se não é possível ter tudo, por que o oposto parece tão concreto? Se o que tem que acontecer acontece, como saber que já aconteceu? 
Creio que seja tudo uma questão de medo do que cada coisa possa significar para quem quer que seja. Creio que o presente seja assustador ou descontentador demais para esperar pelo que vem. Creio não crer em quase nada disso. Um dia acordei com uma pressa de não sei para quê e uma indisposição para ser e argumentar. O simples ato de pensar não me parece valer o cansaço que me causará e ninguém parece entender a inevitabilidade deste pessimismo que quer ser um otimismo.

sábado, 31 de agosto de 2013

Começo a me perguntar quando o inevitável futuro se tornou presente. Tento adivinhar a que altura o que costumava ser certo passou a não ter sentido algum. Teria eu finalmente me tornado uma adolescente? Teria eu me cansado de brincar de adulta? Devo eu apenas aceitar o que quer que seja? Devo eu ridicularizar as palavras que acabo de digitar?
Certamente não há um certamente para o incerto, mas por que não admitir que o bom senso tem me entediado? Tantos meios-termos apenas me tomam a vontade de discutir e me dão um ar de falsa experiência que, de tão pretensioso, com nada se importa. Tantas razões, fórmulas, respostas somente me levam a crer que nem mesmo meu mapa astral é mais respeitado.
Creio que nem mesmo quem costumava me amar sabe que preciso tomar minhas próprias estúpidas decisões e que não gosto de saber de tudo. A menor chance de fazer algo que ninguém pode controlar é muito irresistível, devo admitir. Quando comecei a dar tantas satisfações?

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Eu não sinto como se você realmente estivesse ou quisesse estar. Ter consciência do quanto ocorre somente pra mim não me impede de esperar algo. Preencher vazio com vazio descompromissado de alguma forma parece vazio e não creio que possa acrescentar algo a isso. Tudo tem um prazo, uma solução, uma estimativa, um dado. Por que acrescentar algo? Pareço ter adquirido preguiça de sonhar e acreditar. Pareço ter desistido desta coisa toda. Simplesmente não é pra mim e estou bem quanto a isso. Sei que não posso controlar suas vontades, então prefiro aceitar que você não nos vê muito longe e fazer disto minha própria piada pronta. Em algum momento algo vai acontecer, creio eu.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Como poderia eu ser mais estúpida ainda? A indignação destas linhas não muito reflete o real desapontamento com aquilo que costumava ser o melhor ou o menos ruim de mim. Por que tudo parece conectado e completamente disperso ao mesmo tempo? Uma percepção nada divina do que me ronda deve impossibilitar meu senso pragmático de se tornar um pouco prático. Mera justificativa? De certa forma, sim. Há algo de cômodo em ser estúpido. Por que não admitir? Eu não ousaria desafiar minha capacidade de admitir mesmo o inadmissível. E por que continuo a escrever? Talvez a última unidade de esperança e compreensão esteja nestes voláteis minutos em que me observo fazer nada concreto. Apenas observo o pouco de mim exigir alguma mudança, nem que seja de mim. Observo o que restou desta alma sem nenhuma importância desejar a alegria de não ter seus pobres e desesperançosos atos e pensamentos justificados ou controlados. Por que deixar o conforto para vivenciar o que já era sabido em teoria? Estupidez. Por que continuar a escrever o que provavelmente vem a ser o texto do qual mais me envergonho? O que se faz quando nada nem ninguém mais resta? Se a vergonha é o que sou, então a vergonha é o que tenho.

sábado, 30 de março de 2013


Não havia a menor possibilidade de que algum deles soubesse o que se passava por seus pensamentos. Ela não distinguia claramente quais eram seus objetivos e à medida que aqueles sórdidos cinco minutos que não a permitiam a mínima privacidade passavam, distinguia menos ainda. Tanto se passara naquela desimportante e rotineira caminhada; uma simples melodia lhe trouxera antigos sorrisos e lembranças. Se não muito lhe restaria ao término do dia, concluiu que poderia se permitir ter saudade até que chorasse com sinceridade. Sempre vivera de realismo e acordos, afinal.
Acreditou possuir alguma importância por ter visualizado algo de cinematográfico nas poucas gotas que vindas do céu se misturavam às suas tímidas lágrimas e seguiu. Sabia que não muito lhe restaria depois que a vissem, por isso se trancou no mesmo renegado recinto forçando seu corpo a acabar com seu drama particular o mais breve possível. Desconhecia a fórmula que sua subjetividade encontrara de articular a própria vida num surto de epifanias intencionalmente doces e ácidas. Que mal poderia haver em querer tornar a própria existência algo importante? Sempre vivera do onírico e de aceitação, afinal.
Pudera ter negado com veemência esta necessidade pelo que sequer permitiria concluir o pensamento, mas se rendera por alguns eternos segundos à lavanda, ao café e à leve melodia antiga que de tão presente se encaixara no cenário num clima de frescor da manhã. Por quanto tempo teria resgatado aquela bela imagem? Se catorze anos apenas haviam reforçado o que seu coração insistia em adornar, haveria uma saída fácil? Sabia que sua desimportância importaria pelo resto do dia, então se prendeu a uma obrigação qualquer, destrancou a barulhenta porta e se tornou a protagonista de seu insignificante dia. 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

E numa ânsia de muito falar, eu devo ter perdido alguma coisa. Alguma coisa que eu quisera compartilhar sem que um fonema precisasse ser pronunciado. Algum quê de concreto, ainda que só para mim. Não deveria funcionar isto de ser somente minha. Ousadia sempre fora de meu feitio, mas não falta de sensatez. Pelo menos não assim, tão descaradamente. 

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Talvez o clima não esteja ameno como de costume, mas talvez seja essa instabilidade a tenuidade que proporciona algum equilíbrio. Talvez eu consiga me sentir bem ao me sentir mal e sequer me importe com isso. Qualquer canção me embala numa solitária noite e me faz sorrir das memórias que eu mesma construí. Sorrir dessa capacidade de não suportar uma imagem e de ver uma chance no que sequer é tangível. Não pretendo ressignificar velhas palavras tão bem estabelecidas até então, porém não muito me interessa permitir o comum. Acho que posso ser pretensiosa o suficiente para significar o que significo. Acho que preciso não precisar estabelecer do que devo precisar. Talvez eu acabe me aceitando.